Script Organizacional

OS SCRIPTS ORGANIZACIONAIS

Rosa Krausz

São quatro, segundo nossas observações. As áreas relevantes para a vida e a sobrevivência das organizações: trabalho (ou atividade), tempo, dinheiro, pessoas. Para cada uma dessas áreas, as organizações desenvolvem e operacionalizam uma ideologia que irá caracterizar o cotidiano e a trajetória da empresa.
Ideologia do trabalho

Cada organização ou (empresa) interpreta o trabalho à sua maneira. Uma forma de esclarecer qual é a ideologia de trabalho de uma organização é responder às seguintes questões:

Em nossa empresa -
O que é trabalho?
Como se trabalha aqui?
Quando se trabalha?
Para que se trabalha?
Quem trabalha?
Onde se trabalha?
Por que se trabalha?

Poucas são as empresas que param para pensar nessas questões e talvez por isso é que a produtividade num grande número delas tende a estar abaixo de sua real capacidade. A noção mais encontradiça, quando se pensa em trabalho, é estar ocupado, fazendo algo, em movimento. Poucas são as pessoas que pensam em termos de resultados, de prestação de serviços, de qualidade, de objetivos, de missão.

Embora muitas empresas utilizem um discurso que valorize o conseguir o máximo de resultados com o mínimo de insumos materiais e humanos, poucas são as que atuam dessa forma. As motivações não conscientes, as mensagens contraditórias entre palavras e ações/decisões, a visões distorcidas sobre o trabalho, visto mais como um fim em si mesmo do que um meio para a obtenção de resultados, são alguns dos elementos que contribuem para a subprodutividade de uma grande número de empresas.

Ideologia do tempo

O tempo é um recurso que poderá ser usado a favor ou contra a empresa. Ernst apresenta uma relação interessante entre os quatro quadrantes do Curral OK e as formas características de uso do tempo em cada um deles, sintetizando quatro ideologias do tempo.

Quadrante OK/OK - Utilizar produtivamente o tempo
Quadrante OK/NÃO OK - Matar o tempo
Quadrante NÃO OK/OK - Desperdiçar o tempo
Quadrante NÃO OK/NÃO OK - Passar o tempo

Fazendo-se uma analogia com essas quatro formas de usar o tempo, pode-se distinguir quatro ideologias básicas que influenciam a maneira como o tempo é utilizado nas organizações:

O tempo é um recurso precioso e é utilizado para alcançar objetivos/metas.
O tempo é um recurso importante apenas para alguns, os “chefões”, que detém a maior parcela de poder na empresa.
O tempo é um recurso importante. As pessoas usam-no de forma banal.
O tempo é desconsiderado, empregado em ações/atividades sem sentido ou relevância.
Ideologias sobre as pessoas

O relacionamento interpessoal, a filosofia e as políticas de recursos humanos, os estilos gerenciais predominantes, o espaço para a efetiva, participação dos funcionários, o relacionamento entre áreas e níveis hierárquicos, relações com clientes externos e fornecedores, métodos de recrutamento e seleção etc. tendem a ser afetados pela ideologia sobre as pessoas.
Ernst afirma que “o resultado dos relacionamentos entre as pessoas é equacionado através de uma das quatro categorias de operação dinâmica”, que são as seguintes:

Caminhar juntos (OK/OK)
Livrar-se de (OK/NÃO OK)
Afastar-se de (NÂO OK/OK)
Ir a nenhum lugar (NÃO OK/NÃO OK)
Assim:

1. Caminhar juntos caracteriza-se pela cooperação, parceria, respeito independente da posição hierárquica na empresa, participação, confiança mútua, reconhecimento, transparência.
2. Livrar-se de é caracterizado por relacionamentos exploradores/manipuladores, falta de confiança, de respeito, de lealdade.
3. Afastar-se de caracteriza-se por relacionamentos de dependência, acomodação/submissão.
4. Ir a nenhum lugar pode ser caracterizado por relacionamentos estéreis, apatia, passividade, indiferença.

Ideologia sobre dinheiro

Afeta as práticas comerciais, a política econômico-financeira, remuneração do capital e do trabalho, benefícios. Reflete-se, também, nas instalações, equipamentos, investimento em tecnologia, relacionamentos comerciais com bancos, clientes e fornecedores, preços praticados, posicionamento estratégico da empresa frente ao mercado, concorrentes, etc.
Distinguimos quatro ideologias básicas em relação ao dinheiro:

1 - Dinheiro é meio e não fim
Nesse caso, embora exista a preocupação com lucro, este é conseqüência da qualidade dos produtos e serviços, da elevada produtividade e competitividade da empresa como um todo.

2 - Dinheiro é o fim e não meio
O lucro é a razão da empresa que tende a ser imediatista. Em geral paga os salários mais baixos do mercado, utiliza práticas comerciais dúbias, procura investir o mínimo possível em instalações, equipamentos, segurança e pessoas, estando por isso mesmo sujeitas a crises periódicas.

3 - Dinheiro às vezes é meio, às vezes é fim (ambigüidade de posicionamento)
Não há um posicionamento claro, nem linha definida de conduta. Diretrizes econômico-financeiras são confusas, dificuldade em estabelecer prioridades e tomar decisões.

4 - Dinheiro não é meio nem fim
Nesse caso a situação econômico-financeira é caótica, incoerente, a passividade, alienação e falta de decisões põem em risco a saúde;sobrevivência da empresa.

Como afirma Pettigrew, “a potência das ideologias organizações dependerá não só do contexto social no qual funcionam, de como foram criadas, por quem foram criadas, mas também de como são mantidas vivas”.

Partindo-se do pressuposto que as organizações são sistemas abertos seus scripts, como no caso dos indivíduos, sofrem influências do macrocosmo, do mesocosmo e do microcosmo.

As sociedades urbanas pós-industriais (macrocosmo) enviam um conjunto de mensagens que afetam as organizações, entre as quais destacamos:

1. Expandir-se e crescer.
2. Competir para a conquista de novos mercados.
3. Usar indiscriminadamente os recursos do meio ambiente.
4. Ser oportunista e colocar os princípios éticos em segundo plano.
5. Valorizar o poder econômico.
6. Manipular, sempre que possível, o consumidor através dos meios de comunicação.
7. Planejar a obsolescência dos produtos e serviços para garantir o consumo.

Do mesocosmo, ou setor da sociedade relacionado ao ramo de atividades da organização que inclui concorrentes, fornecedores, clientes, profissionais da área e ramos afins provêm mensagens (injunções e atribuições) do tipo “Não se Aproxime” – (concorrentes, fornecedores, clientes, etc. não são confiáveis). “Não Sinta” – (para sobreviver num mercado competitivo é preciso ser duro, insensível, derrotar o concorrente antes que ele o derrote).

Do microcosmo emana também uma série de mensagens. Nesse caso a cultura organizacional permite distinguir com maior nitidez o conjunto de injunções e atribuições predominantes que contribuirão para a manutenção dos aspectos restritivos do script organizacional.

Haimowitz e Haimowitz afirmam que as atribuições reforçam as injunções, uma vez que as primeiras tendem a ser socialmente aceitáveis e por isso claramente verbalizadas. Abaixo apresentamos a relação entre atribuições e injunções que é comumente encontrada nas empresas e organizações em geral. RELAÇÃO ENTRE ATRIBUIÇÕES E INJUNÇÕES NAS ORGANIZAÇÕES



INJUNÇÕES ATRIBUIÇÕES
NÃO SEJA – NÃO EXISTA O “indivíduo” das missões impossíveis, de risco.
NÃO SEJA VOCÊ MESMO Não trabalha na sua especialidade, age de acordo com seus princípios, faz só o que deve para atender as expectativas dos outros.
NÃO SEJA CRIANÇA Assume responsabilidade acima de sua função.
NÃO CRESÇA O dependente, sem iniciativa, imaturo, impulsivo.
NÃO TENHA SUCESSO O modesto, medíocre, contenta-se com pouco.
NÃO O “deixa como esta para ver como é que fica”.
NÃO SEJA IMPORTANTE O acomodado, aceita cargos, funções, tarefas abaixo de seu nível de capacidade, não tem visibilidade na empresa e recusa promoções.
NÃO PERTENÇA O desajustado que não se identifica com seu trabalho, empresa, grupo profissional, etc.
NÃO SE APROXIME O solitário, fechado, trabalho só.
NÃO SE SINTA BEM O eterno insatisfeito com o que faz.


* Do livro “Trabalhabilidade” - cap. VIII “Trilhando os caminhos da vida: o script” – pg.144 a 147

Comentários