Estatísticas do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos) revelam que a rotatividade no Brasil subiu de 34,3%, em 2007,
para 36% em 2011. Contudo, no mercado, observa-se um crescimento significativo
de empresas que investem em Gestão e Pessoas.
Prova disso são as iniciativas das
empresas que, cada vez mais adotam ações para motivar e "encantar" os
colaboradores.
Há várias práticas adotadas pelas empresas como, por exemplo,
pacotes de benefícios atraentes, ações para a melhoria da qualidade de vida do
trabalhador. Contudo, mesmo assim se evidencia uma constante migração de
executivos, diretores e funcionários dos mais diversos níveis hierárquicos.
Com o objetivo de trazer à tona esse relevante assunto que interessa e ao
mesmo tempo preocupa todas as empresas, o RH.com.br entrevistou o sócio-diretor
da Muttate e consultor em gestão e lideranças de pessoas, Tatsumi Roberto Ebina.
Segundo ele, está é uma ocorrência mundial e no Brasil, especificamente,
alguns indicadores cooperam para essa realidade. "Os programas de Gestão de
Pessoas não funcionam. As empresas contratam programas sem uma real leitura de
necessidades da organização e um alinhamento com a prática dos valores
organizacionais", afirma, ao acrescentar que o modelo de gestão das empresas,
geralmente, está baseado no comando e no controle hierarquizado inibe e, por
vezes, aprisiona os talentos e os impede de dar o seu melhor para companhias.
Confira, na entrevista, outros fatores que contribuem para o aumento da
rotatividade. Tenha uma agradável leitura.
RH.com.br - Estatísticas do Dieese revelam que a
rotatividade no Brasil subiu de 34,3%, em 2007, para 36% em 2011. No entanto,
observa-se um crescimento significativo de empresas que investem em Gestão e
Pessoas. O que está ocorrendo com o mercado brasileiro?
Roberto Ebina
- Na realidade, embora você traga à tona um problema do mercado
brasileiro, esta é uma ocorrência mundial. O desemprego em alta. Alguns motivos
levam-me a acreditar nesta elevação no Brasil. Primeiro, os programas de Gestão
de Pessoas não funcionam. Contratam programas sem uma real leitura de
necessidades da organização e um alinhamento com a prática dos valores
organizacionais. Segundo, o modelo de gestão das empresas baseado no comando e
no controle hierarquizado inibe e, por vezes, aprisiona as pessoas impedindo-as
de dar o seu melhor para as empresas. Terceiro, a legislação trabalhista
protecionista que inibe muitas vezes uma empresa de aplicar uma justa causa em
demissão de funcionário criando uma cultura de premiação - aviso prévio, multa
sobre FGTS - estimulando-os a gerar motivo para ser demitido. A quarta razão
seria a má formação escolar, este o verdadeiro pesadelo, incluindo aqui a
prática da cidadania.
RH - Existe um perfil do profissional que migra de uma
empresa para outra com mais frequência?
Roberto Ebina -
Interessante esta questão. O que eu creio é que quando as pessoas estão
endividadas e carentes de recursos financeiros tentam através de uma demissão
conseguir equacionar as suas dívidas, forçando a sua demissão.
RH - Em sua opinião, o que mais influencia a permanência
de um profissional em uma empresa: o reconhecimento ou as
recompensas?
Roberto Ebina - Sem dúvida, dentre estas duas
opções é o reconhecimento que influencia a permanência do profissional na
empresa, mesmo porque ele embute a recompensa. Se, por exemplo, eu promovo
alguém dentro da empresa ela necessariamente terá uma recompensa. Eu ampliaria
esta resposta para o seguinte aspecto - quando dentro da uma organização as
pessoas sentem liberdade de poderem ser o que podem ser, são empoderadas,
ouvidas e consideradas nas suas opiniões, em outras palavras, tornando os
valores da empresa vivos no comportamento do dia a dia, isto faz o profissional
permanecer na organização.
RH - Quais são os principais fatores que estimulam os
talentos a deixarem uma organização?
Roberto Ebina - Creio
que o principal deles é um chefe inadequado, daqueles que falam e não praticam o
que pregam, não respeitam as pessoas e abusam do poder que têm. Outro fator é a
pessoa não ver oportunidade alguma de crescimento dentro da empresa ou mesmo
quando a chefia não a estimula e a desafia para isso. Por fim, enfatizo as
práticas de gestão inadequadas, antiéticas, cometidas pelos principais
executivos ou donos da empresa.
RH - Esses fatores que contribuem para a rotatividade
estão presentes em empresas de qualquer segmento e porte, ou é um lamentável
privilégio de algumas organizações?
Roberto Ebina - Estes
fatores estão presentes em muitas organizações. Não é privilégio de algumas
somente. A presença de chefes inadequados, despreparados e que inibem a
liberdade das pessoas serem elas mesmas, é impressionante. É incrível verificar
o quando se retrabalha, desperdiça-se tempo e recursos nestas condições.
RH - A ausência de desafios no ambiente de trabalho pesa
no momento em que o talento recebe uma nova proposta?
Roberto Ebina -
Sem dúvida alguma, se falamos de verdadeiros talentos, porque hoje quem
faz o que deve fazer é considerado um talento. Talento é alguém que vai além do
padrão, excede. Todos estão em busca desta pessoa. A demanda é maior que a
oferta. Na realidade a empresa deveria repensar a sua forma de gestão para
assegurar que os talentos sejam mais um contribuidor como membro de uma equipe,
de um time, embora, diferenciado, no seu jeito de ser e agir.
RH - Muitos estudos apontam a atuação das lideranças
como sendo um dos fatores que motivam os profissionais criarem laços com a
empresa onde atuam. O senhor concorda?
Roberto Ebina -
Concordo e posso explicar meu posicionamento. De fato, as lideranças, e, aqui
estamos falando em contraposição ao chefe ou gestor, são pessoas inspiradoras e
mobilizadoras de pessoas. Através delas a visão e os valores organizacionais
transformam-se em comportamentos observáveis que geram orgulho e vínculo.
RH - A falta de motivação surge ao longo dos anos de
atuação em uma mesma empresa ou isso é apenas um mito?
Roberto Ebina
- A motivação está dentro de cada pessoa. O que muitas vezes podemos
considerar é que o potencial de alguém ao longo do tempo transforma-se em
desempenho. Neste caso o potencial tende a zero, enquanto o desempenho tende a
100%. A presença de novos desafios sejam eles para influenciar pessoas, criar
algo novo ou mobilizar pessoas faz com que a motivação surja. É um mito.
RH - Quais as ferramentais mais eficazes para envolver e
reter talentos em um mercado em constante processo de mudança?
Roberto Ebina - Primeiro é não limitar a pessoa a um
quadrado ou retângulo, mas sim expandir os seus horizontes com desafios. Outro
ponto é não criar circunstâncias ou burocracias limitantes. Permitir que o
profissional use todo o seu poder de inovação e de criatividade voltado para
decisões que atendam aos clientes de forma ágil, como também faço o colaborador
fazer parte de um time vencedor e reconhecimento.
RH - Que conselhos o senhor daria a um profissional de
RH que observa um alto percentual de rotatividade na empresa e deseja reverter
a?
Roberto Ebina - Diária do profissional de Recursos
Humanos que primeiro ele entenda, com profundidade, o que está acontecendo. Em
seguida: quais as causas que provocam tal índice; converse com as lideranças
estas causas e construa com elas ações de reversão. Mais de 90% das causas de
demissão de pessoas estão relacionadas às ações ou às omissões dos gestores.
Tenha coragem e determinação para enfrentar o real problema. Não ataque os
sintomas, mas sim trate as causas do problema.
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