Mudança de profissão exige planejamento e autoconhecimento




por Ana Paula Pavanello 


O americano Christopher Kastensmidt tinha uma carreira invejável. Desde que se formou em engenharia de computação pela Rice University, trabalhou em grandes empresas de tecnologia como IBM e Intel. Para muitos, sua vida profissional poderia ser considerada um sucesso. Mas ele não estava satisfeito. Faltava algo. Assim, se arriscou e deu uma guinada na vida: mudou-se para o Brasil para trabalhar com games. “Saí de uma carreira muito bem paga em que eu estava subindo rapidamente; foi um risco enorme, mas eu era mais jovem e podia arriscar sem grandes preocupações”, diz ele. 



Após um período de dificuldades, Kastensmidt novamente encontrou o sucesso. Em pouco tempo tornou-se diretor criativo na Ubisoft, uma das maiores publicadoras de jogos eletrônicos do mundo. Mas a inquietação profissional ainda o ncomodava. Decidido a encontrar a profissão que verdadeiramente lhe completasse, aventurou-se pela escrita e pelo mundo acadêmico. Em 2010 abandonou a indústria de games para se tornar escritor e professor universitário. “Ainda estou correndo atrás de um sonho, mas ser escritor não paga muito por enquanto. Por isso, para pagar as contas, dou aula e presto consultoria sobre a indústria de games.” 



Apesar do sucesso obtido até agora em suas mudanças de carreira, Kastensmidt não planejou suas ações. Seguiu a intuição e tem obtido êxito. Porém, infelizmente, há riscos que precisam ser administrados. Planejamento e conhecimento do mercado para onde se pretende migrar são fatores fundamentais para minimizar os riscos nesses processos de mudança de carreira. “Toda e qualquer mudança traz consigo alguns riscos, os quais podem ser mitigados se a mudança for devidamente planejada, levando-se em consideração todos os fatores envolvidos, tais como cenários, tendências de mercado e, acima de tudo, seu perfil, principalmente comportamental”, destaca o diretor de Ações Estratégicas da ABRH-BA, Remullo de Almeida e Farias. 



O consultor explica que conhecer suas habilidades, talentos e capacitação para o novo cenário, e o que lhe será exigido em termos de competências, são diferenciais positivos nessa guinada profissional. “O sucesso é, acima de tudo, uma consequência da adequação mais perfeita possível entre as minhas características, principalmente comportamentais, e as exigências das novas atribuições”, pontua. Por outro lado, ele lembra que as mudanças não devem acontecer por acaso. Para o especialista é preciso avaliar o quanto a nova carreira irá contribuir, mais do que a carreira anterior, para o projeto de vida do profissional. “Isso tudo se a pessoa tiver um projeto de vida, o que não é muito comum, apesar de muito falado.” 



Daniel Victor Santos, portanto, é uma exceção. Com experiências nos setores automotivo, farmacêutico e mercado financeiro e um currículo que inclui, além da graduação em Engenharia Mecânica de Produção, MBA em Finanças e especialização em Marketing feita em Milão, na Itália, resolveu apostar em seus sonhos. Há nove anos, ele deixou a vida de executivo que construiu na França para abrir uma pousada. A decisão foi planejada com antecedência e foi elaborado, inclusive, um ‘plano B’. Caso não alcançasse seus objetivos, retornaria ao antigo ramo de trabalho. 



Porém, isso não foi preciso. Junto com a esposa, a psicóloga Daniela Andriesse, Santos percorreu a costa brasileira por dois meses, com um carro emprestado. Foi em Trancoso, na Bahia, que encontrou o lugar ideal para apostar em seu projeto de vida. “Quando estava na Europa descobri que existia vida fora de São Paulo e que não precisava me tornar presidente de uma empresa para me sentir realizado. Poderia inclusive ser mais feliz tendo um negócio próprio, uma vida mais simples, com mais contato com a natureza”, disse. O negócio deu certo. Com o tempo a pousada triplicou o número de quartos e recentemente foi reconhecida pela revista The Sunday Times Travelcomo a melhor da América Latina. 



Status profissional muda



Mudanças drásticas como as de Christopher e de Daniel podem ter pontos distintos, mas em comum guardam a dificuldade em se começar na nova carreira. “A pessoa deve estar ciente de que vai começar do zero e por baixo, seu status profissional vai mudar, e a recolocação pode não ser tão rápida”, explica Viviane Gonzalez, consultora de carreiras e diretora regional da Business Partners Consulting. Para ela, toda e qualquer mudança profissional é um risco grande. “A pessoa deve pesquisar ao máximo sobre o mercado para em que está indo e nunca tomar uma decisão por impulso”, alerta. 



Formada em comércio exterior, Fernanda Frega é outro exemplo. Ela abriu mão do cargo de gestora de Atendimento de um grande banco, a garantia de um bom salário e diversos benefícios, após a decepção com uma promessa não cumprida feita pela instituição. Apaixonada por gente, Fernanda partiu para a área da saúde e estudou massoterapia, área na qual atua há menos de um ano. O sonho, que ela mesma considera uma loucura, deu certo. “Já estou faturando mais do que quando trabalhava no banco”, disse. 



Fernanda foi atrás do que gostava de fazer e considerava um talento. O sucesso da massoterapeuta prova também uma teoria do consultor Remullo de Almeida e Farias. “Para conseguir êxito nessas mudanças profissionais é necessário elaborar um projeto de vida e assumi-lo como bússola para o amanhã”, assinala, acrescentando que um especialista pode ajudar na escolha desse foco. “O importante é ter conhecimento sobre você e suas capacidades”, afirma.

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